120 segundos para mudar a perceção sobre trading: porque é que os investidores de retalho que fazem day trading estão simplesmente a jogar?

Autor: Pickle Cat

Tradução: Tim, PANews

Se não queres continuar a perder dinheiro no mercado cripto, a primeira coisa que deves fazer é deixar de fazer trading intradiário de curto prazo.

Porque o trading intradiário feito por investidores de retalho é, na verdade, uma fraude.

Este é um texto longo, mas se me deres 120 segundos do teu tempo, garanto-te que daqui a alguns anos vais agradecer-me.

Comecei a negociar ainda na adolescência.

Já tive momentos em que achei que era um verdadeiro génio e também vivi lições dolorosas em que perdi tudo e ainda estou a recuperar.

Experimentei todas as estratégias de negociação que um investidor de retalho pode encontrar.

Esta memória dolorosa é muitas vezes a cicatriz que mais nos desperta e nos faz ver a realidade.

Os meus lucros com o trading eram tão miseráveis que até a minha avó, para quem configurei compras automáticas de Bitcoin, ganhou muito mais do que eu.

Mais tarde, tornei-me um investidor de swing de baixa frequência, quase não mexia na carteira, e assim que realizava lucro, saía logo do mercado e parava de negociar durante algum tempo.

Só depois disso é que a minha vida começou a melhorar gradualmente e tudo voltou ao normal.

Não sou santo, escrevo isto para salvar aquele meu eu mais jovem, estúpido, ingénuo e impulsivo ao ponto de ser doloroso.

Primeiro, enquanto day trader, fazes operações de alta frequência sem qualquer vantagem informativa (não tens acesso a fluxo real de ordens, não tens um mapa completo da liquidez, não conheces a posição dos market makers, não tens qualquer vantagem operacional — não tens nada).

Se negociares algumas vezes por trimestre, ainda consegues sobreviver. E se negociares mais de dez vezes por semana? Mesmo que tenhas a melhor “disciplina” e “gestão de risco” do mundo, a matemática vai acabar por enterrar-te por completo.

Os investidores de retalho não falham porque nunca ganharam dinheiro, mas sim porque não conseguem parar, e o trading de alta frequência só tem um desfecho: perder tudo.

Isto é mesmo o motivo pelo qual criei um sistema de punição — assim que ultrapasso o limite de operações por trimestre, tenho mesmo de o cumprir.

Todas as minhas grandes perdas aconteceram depois de um grande lucro, porque não parei e continuei a operar.

E todos os lucros realmente grandes que consegui (e mantive a longo prazo) foram porque agarrei uma boa tendência e depois parei a tempo.

A regularidade disto é tão óbvia que chega a ser dolorosa.

Lucro não é aquele ganho rápido e efémero.

Vencer é conseguir manter o lucro, não devolvê-lo no ano seguinte.

Vejo miúdos de 14 anos no TikTok a dizerem que são day traders, a desenhar linhas no TradingView, a pensarem que, por terem comprado um curso de “guru” ou entrado num grupo Discord, já dominam algum sistema de trading diário.

Isto é revoltante, porque se eles soubessem que estão a jogar, eu não me sentiria assim. Pelo menos assim estariam conscientes do jogo em que se meteram.

Esta febre do day trading é ainda maior do que a onda das ICOs em 2016 e 2017, e todos sabemos como isso acabou.

As pessoas subestimam a dificuldade do trading e, ao mesmo tempo, sobrestimam as suas próprias capacidades.

O problema não é apenas matemático. É verdade que quanto mais operas, menos disciplina tens com os stops e mais difícil é obter lucros consistentes.

Mas a realidade é que os jovens investidores de retalho acreditam sinceramente que, desde que sigam “disciplina” e “gestão de risco”, não estão a jogar. Acham que o day trading é uma “habilidade” que se pode executar como uma rotina diária.

Isto não se limita ao day trading em cripto. A mesma lógica aplica-se totalmente ao mercado de ações americano e a todos os mercados.

O trading de alta frequência só faz sentido para instituições. Sabes o que os traders institucionais não usam? Gráficos de velas e TradingView.

Eles usam Bloomberg Terminal e têm acesso a dados a que o retalho nunca terá.

De certeza que sabes isto. Mas jovens entre os 14 e os 18 anos não sabem, acham que os indicadores que usam são os mesmos de todos os traders.

E é precisamente aí que está o verdadeiro perigo.

Quando percebes que estás a jogar, pelo menos uma parte de ti sabe quando deve parar.

Mas quando acreditas que tens um “sistema”, nunca páras.

Operas sem parar até o mercado te esvaziar por completo.

Isto é mesmo como um casino disfarçado.

Quando entras em Las Vegas ou Macau, sabes perfeitamente ao que vais.

Vês as luzes, as mesas, os dealers, ouves o burburinho. O teu cérebro sabe que aquilo é jogo.

Mas o day trading de hoje é apenas um casino disfarçado de café.

Os novos traders entram, achando que estão ali para “aprender uma habilidade”, sem perceberem que já estão sentados numa mesa desenhada para os espremer lentamente.

Por isso é que nunca saem, e essa é a verdadeira tragédia — não é perder dinheiro.

O verdadeiro problema é que, no fundo, acreditam que não estão a jogar. Isso faz com que nunca se levantem da mesa, até perderem todas as fichas.

E aqueles investidores de retalho que parecem “vencedores” (como eu), na verdade, a maioria só apanhou uma grande subida por sorte.

Tiveram a sorte certa no momento certo e, depois de muita pancada antes, aprenderam a parar a tempo.

Mesmo assim, este pequeno grupo representa menos de um por cento de todos os investidores de retalho.

Ganhar dinheiro a negociar não é assim tão difícil, o difícil é mesmo conseguir manter o dinheiro ganho.

A PANews já entrevistou o autor, os leitores interessados podem ouvir o podcast na Xiaoyuzhou: “Moeda, geração 00 e os seus amigos” NO.3 — Mulher Degen, trader, rebelde