Modelo UTXO do Bitcoin: Por que as soluções L2 do BTC continuam a errar

Durante anos, o debate sobre as L2 do BTC tem estado na sombra do Ethereum. A maioria das L2s apenas copia os rollups EVM — rápidas de construir, mas que eliminam as garantias de segurança do Bitcoin e obrigam os utilizadores a alternar entre carteiras BTC e EVM. Nada muito suave.

Mas aqui está o ponto: o modelo UTXO do Bitcoin é fundamentalmente diferente do sistema baseado em contas do Ethereum, e essa diferença importa muito mais do que a maioria das pessoas percebe.

Modelo UTXO vs Modelo de Contas: Dinheiro em espécie vs Extrato bancário

Pense desta forma:

• Modelo de Contas (Ethereum): Como a sua conta bancária. Tem um saldo total, e as transações apenas atualizam esse número.
• Modelo UTXO (Bitcoin): Como dinheiro físico. Cada moeda que recebe é uma “nota” separada na sua carteira. Quando gasta, consome notas antigas e cria novas.

Exemplo: Tem uma nota de 1.000 yuan e compra algo por 600 yuan.

• Modelo de contas: O seu saldo torna-se 400.
• Modelo UTXO: Entrega a nota de 1.000 yuan e recebe de volta uma nota de 400 yuan + o comerciante recebe uma nota de 600 yuan.

Cada transação destrói literalmente UTXOs antigos e cria novos.

Entrando no eUTXO: UTXO em modo turbo

Cardano e Ergo avançaram com o Extended UTXO (eUTXO) — UTXOs que não carregam apenas valor, mas também dados e lógica de contratos inteligentes. Agora, cada transação não é apenas um pagamento; é um mini-contrato inteligente que pode impor condições.

Parece poderoso. Mas o modelo UTXO central do Bitcoin não consegue fazer isso nativamente.

O Problema BRC-20: Rodar Windows num Mac

BRC-20 tentou criar tokens no Bitcoin usando uma técnica engenhosa: embutir dados no modelo de contas (em formato JSON) nos scripts de transação do Bitcoin. Basicamente, estão a adaptar o modelo do Ethereum ao sistema UTXO do Bitcoin.

O problema? O Bitcoin não entende esses dados. É como escrever notas na moeda física — o banco não se importa com o que você rabiscou.

Para acompanhar os saldos de tokens BRC-20, os projetos precisam de indexadores off-chain — servidores centralizados que mantêm os seus próprios livros-razão. Isso vai contra o princípio da descentralização da blockchain.

Protocolos mais recentes como ARC-20 e Runes tentaram resolver isso fazendo os tokens = satoshis (a menor unidade do Bitcoin). Mas o limite mínimo de 546 satoshis por saída do Bitcoin mata a liquidez. Não dá para dividir tokens de forma suficientemente fina para negociações reais.

Os puristas tecnológicos chamam o BRC-20 de uma “regressão técnica”. E não estão totalmente errados.

Protocolo RGB: A verdadeira solução?

O RGB foi criado como um sistema de contratos inteligentes para blockchains UTXO. A ideia central: “Vinculação isomórfica” — mapear os UTXOs do Bitcoin para as “Cells” do Nervos CKB (um formato UTXO aprimorado que pode lidar com contratos inteligentes).

Mas o RGB ainda está incompleto (v0.11 nem foi lançado), e a implementação completa pode nunca acontecer.

A aposta do RGB++ do CKB: Cross-chain sem pontes

Aqui é que fica interessante. O protocolo RGB++ do CKB basicamente diz:

“Deixe de tentar bloquear BTC em L2. Em vez disso, valide transações em ambas as cadeias, Bitcoin e CKB, simultaneamente. Use o CKB para contratos inteligentes complexos, o Bitcoin para a segurança da camada base.”

Como funciona:

• Ativos emitidos na camada L1 do Bitcoin
• Funcionalidade de contratos inteligentes ocorre na camada L2 do CKB (usando Cells no estilo eUTXO)
• Sem necessidade de pontes — apenas verificação dupla na cadeia
• Os utilizadores não precisam de clientes especiais nem de armazenar o histórico de transações localmente

É uma “cross-chain intencional” em vez de “cross-chain de ativos” — estás a mover a execução, não a bloquear moedas.

A aposta

O RGB++ ainda é conceitual e não comprovado. Mas representa uma abordagem fundamentalmente diferente: em vez de forçar o Bitcoin a modelos de L2 ao estilo Ethereum, trabalhar com o design UTXO do Bitcoin, não contra ele.

Se realmente será lançado e escalável, é outra questão. Mas, como direção? Vale a pena acompanhar.