Quando o Facebook surgiu, parecia algo irrelevante: um anuário universitário digital, sem qualquer modelo de negócios claro. A geração anterior via a plataforma como um passatempo, sem conseguir prever como ela poderia, um dia, monetizar a atenção em escala global. Twitter também enfrentou ceticismo semelhante. Inicialmente visto como um espaço onde as pessoas relatavam o que estavam comendo, aos poucos se transformou no sistema nervoso da política e da mídia mundial. Até mesmo o Roblox, antes considerado só um jogo infantil, revelou-se um laboratório para economias virtuais e mundos criados pelos próprios usuários. Vez após vez, plataformas que nasceram como curiosidades acabaram se tornando infraestrutura cultural global e fontes de receitas financeiras expressivas.
Pump.fun vive um momento parecido. Para muitos, o movimento da equipe em direção ao streaming ao vivo parece pouco sério, até mesmo absurdo. Muitos rotularam a Pump como entretenimento de memecoin fadado ao fracasso. Ignorar nessas bases é desconsiderar sua força de permanência e o fato de superar concorrências em questão de semanas. Pump constrói os pilares de uma economia digital para uma geração permanentemente conectada, onde cultura e especulação são indissociáveis. Com o streaming de volta à sua suíte de produtos, o objetivo é se tornar a principal porta de entrada para entretenimento com participação financeira do espectador.
A economia do streaming evidencia os limites do modelo atual e abre espaço para que novos participantes desafiem os líderes Twitch e Kick. O Twitch, subsidiária da Amazon, retém metade de cada assinatura, e criadores médios com 1.000 espectadores simultâneos podem receber apenas US$ 600 por mês (considerando assinaturas, anúncios e gorjetas). Kick, plataforma apoiada pela empresa de apostas Stake, oferece divisão de 95/5. Esse benefício é bancado por subsídios: streamers elegíveis ao programa de incentivos podem faturar mais de US$ 6.000 mensais para o mesmo público, quase 10 vezes mais que no Twitch. Mas os números são artificiais, sustentados pelo caixa da Stake para atrair jogadores para seu cassino online. A sustentabilidade desses modelos não é autônoma.
Modelo de divisão de receita entre plataformas tradicionais e criadores
O modelo de incentivo da Pump vai direto ao ponto nessas contradições, abrindo caminho para criadores monetizarem de maneira antecipada. Streamers que lançam um token deixam de depender exclusivamente de assinaturas ou publicidade. Agora, criadores podem gerar demanda por meio da própria performance. O ciclo é simples: transmissões provocam especulação; especulação cria receita de taxas; criadores podem executar buybacks; buybacks criam narrativa; e a narrativa impulsiona novas transmissões. Esse é o diferencial para a próxima geração de streamers inovadores. A receita não depende apenas do tamanho do público, mas do engajamento financeiro dos espectadores no espetáculo que consomem.
Não se trata de uma simples alteração no sistema de incentivos. Pump está redesenhando o conceito de performance online. Um criador que fatura US$ 10 milhões ao ano em publicidade pode destinar uma parcela para buybacks e o token, ligado à sua persona digital, passa a funcionar como um investimento com demanda recorrente integrada à estrutura. A comunidade deixa o papel passivo e opta por se engajar financeiramente e emocionalmente com o criador.
As novas gerações já preferem consumir notícias e atualidades por meio de formatos digitais. Quando se entende esse comportamento, é bem possível imaginar que elas venham a comprar os tokens de seus streamers preferidos (se não imediatamente, assim que perceberem valor ou tiverem os meios para isso). Nesse novo modelo, as moedas dos criadores mais populares podem atingir valores superiores ao de grandes empresas de tecnologia. Investidores e traders adquirem mais do que fluxos de caixa: compram acesso à cultura, identidade e comunidade.
Esse cenário não é só teórico. No início deste ano, o presidente Donald Trump, logo depois de vencer as eleições e lançar o $TRUMP memecoin, ofereceu aos 220 maiores detentores um lugar em um jantar de gala; os 25 principais ganharam um tour VIP pela Casa Branca e uma recepção privada com o presidente. No total, esses investidores gastaram quase US$ 150 milhões para garantir suas posições. Só o anúncio fez o preço do token subir mais de 50%. Isso demonstra que possuir tokens pode gerar retorno financeiro e acesso social real. Ou seja, a visão da Pump sobre tokens de streaming como norma cultural já acontece no topo das celebridades e da política.
O que os críticos ignoram é que Pump está profissionalizando o espetáculo financeiro, assim como os esportes profissionalizaram o domínio físico e os esports, o domínio digital. Na era da hiperfinanceirização, trading imita a arte tanto quanto a arte imita o trading. O colapso não é fracasso; é apogeu narrativo. Um "rug pull" já não encerra uma carreira — é ritual que consolida a lenda do anti-herói. Risco e prejuízo não são defeitos do sistema; viram conteúdo, gerando e compartilhando cultura.
Os tokens deixarão de ser curiosidades especulativas e evoluirão para instrumentos de fidelização que regulam acesso, comércio e comunidade. Assim como o TikTok misturou compras ao entretenimento, Pump vai mesclar espetáculo à especulação. A barreira entre participação financeira e cultural vai desaparecer. O público não estará sentado na arquibancada — estará participando de perto. A audiência se transforma em microeconomias autônomas: organizando tesourarias, coordenando buybacks e gerindo ativos coletivos com diferentes graus de atenção ou ousadia.
Os seres humanos sempre sinalizaram seus valores por meio de performance. Roma tinha gladiadores. A era industrial, atletas. A era digital, gamers. A era financeira continuará colocando traders em destaque. No novo palco, não há distância entre espectador e participante. Assistir a um trader é executar o mesmo trade com um clique. O momento de destaque já não se resume a slam dunks ou atuações dignas de prêmio: performances são compartilhadas junto a gráficos parabólicos, cascatas de liquidação ou buybacks dramáticos que alteram o preço do token em tempo real. As finanças já não ficam em segundo plano; ocupam agora o banco ao lado.
Absurdidade e obscenidade são conceitos subjetivos. Quanto mais tempo algo existe, mais aceitação conquista. A história mostra que o que parece irrelevante no início costuma conter o germe da transformação. Redes sociais começaram como passatempo antes de virarem infraestrutura cultural. O namoro online foi motivo de piada antes de se tornar rotineiro. Creator coins ainda parecem ruído sem sentido para alguns. Os céticos vão afirmar que não perceberam antes.
Pump não apenas conecta especulação ao streaming. Tem potencial para redefinir a relação entre criadores, público e capital em um sistema autossustentável e escalável. Conteúdo gera demanda. Demanda provoca buybacks. Buybacks alimentam cultura. Cultura renova o conteúdo. O ciclo virtuoso está completo.
O dinheiro já é cultura. Pump é a primeira plataforma a assumir isso abertamente e construir a base para sua expansão. O destaque dos próximos anos será o gráfico.
É fácil desmerecer o streaming ao vivo da Pump como tendência passageira ou fenômeno passageiro. É fácil afirmar que não tem potencial de permanência. Difícil é analisar os números que Pump apresenta (receita, distribuição em diferentes categorias de streaming, crescimento de espectadores ativos diariamente, etc.) e concluir que não há nada ali digno de mais atenção. Para quem chegou até aqui e se encaixa nesse perfil, tente deixar de lado o ceticismo, suspenda a descrença e imagine como será o futuro daqui a alguns anos. Usuários de "CT" já falam sem parar sobre hiperfinanceirização. Falam disso o tempo inteiro e fazem parecer inevitável.
É exatamente isso que caracteriza a hiperfinanceirização. Com o sucesso do último fim de semana, a janela de Overton se expandiu. Não consigo imaginar que continuaremos num cenário em que streamers dependam de plataformas como Twitch ou Kick para distribuição. É muito mais plausível que uma geração de empreendedores agarre a oportunidade de unir streaming ao vivo e creator coins em motores de relevância cultural e ganhos financeiros do que o contrário. Estamos vivendo uma versão acelerada do capitalismo: aquela que funde entretenimento e investimento no mesmo palco.
A linha entre público e stakeholder já começou a se confundir. O que parecia absurdo ficou em evidência por apenas uma semana e já mostra resultados surpreendentes. Com o tempo, isso ficará mais claro. Pump não inventou o streaming, mas vai levar o formato ao seu extremo lógico. O avanço da equipe em streaming ao vivo tem potencial para colocar a Pump sob os holofotes da cultura.
Você pode discordar. Não precisa participar. Mas Pump oferece uma visão do futuro — e esse futuro é inevitável. Não deixe que desconfortos ofusquem sua percepção de como o terreno pode mudar rapidamente para os gigantes do setor. Normalmente, isso acontece muito mais rápido do que se imagina.