Confira todos os gráficos desta edição no Week On-chain Dashboard.
Após o recorde histórico de agosto, o ímpeto do mercado diminuiu gradualmente, levando o Bitcoin abaixo do custo dos compradores recentes do topo e de volta ao “gap” de US$ 110 000 a US$ 116 000. Desde então, o preço oscilou nesse intervalo, preenchendo-o gradativamente conforme o suprimento se redistribui. Resta saber se esse comportamento caracteriza uma consolidação saudável ou o início de uma correção mais profunda.
Segundo o Cost Basis Distribution (CBD), que mapeia os níveis de aquisição do suprimento, o repique a partir de US$ 108 000 foi sustentado por forte pressão de compra on-chain — uma estrutura buy-the-dip que trouxe estabilidade ao mercado.
O relatório analisa as dinâmicas vendedoras e o ímpeto em indicadores on-chain e off-chain, destacando as forças mais prováveis de impulsionar o próximo movimento decisivo do Bitcoin fora desse intervalo.
Primeiramente, são mapeadas as bases de custo dos agrupamentos em torno do preço atual, pois esses níveis geralmente ancoram a ação de curto prazo.
O mapa de calor do CBD aponta três grupos distintos de investidores impactando o preço:
Esses patamares delimitam o intervalo de negociação atual. Retomar US$ 113 800 devolveria lucratividade aos compradores do topo e alimentaria o movimento de alta. Já uma perda de US$ 108 300 pode levar detentores de curto prazo novamente ao prejuízo, ativando pressão vendedora e abrindo caminho para o próximo grande agrupamento em US$ 93 000.
Após identificar os agrupamentos de oferta próximos ao preço atual, observa-se o comportamento dos diferentes grupos de detentores durante o repique de US$ 108 000 para US$ 114 000.
Embora os compradores na baixa tenham dado suporte, a pressão de venda foi liderada pelos detentores experientes de curto prazo. O grupo de 3 a 6 meses realizou cerca de US$ 189 milhões por dia (média de 14 dias), representando aproximadamente 79% dos lucros dos detentores de curto prazo. Isso indica que investidores que compraram na baixa entre fevereiro e maio aproveitaram o repique para realizar lucros, criando resistência adicional.
Além dos lucros realizados por investidores experientes de curto prazo, compradores recentes no topo também exerceram pressão ao realizarem prejuízos durante o mesmo repique.
O grupo de até 3 meses realizou perdas de até US$ 152 milhões por dia (média de 14 dias). Esse padrão repete períodos de estresse observados em abril de 2024 e janeiro de 2025, quando compradores em pico capitularam da mesma forma.
Para uma retomada de alta de médio prazo, a demanda precisa ser forte o bastante para absorver essas perdas. A confirmação virá se o preço se estabilizar acima de US$ 114 000, restaurando confiança e atraindo novos investidores.
Com lucros e prejuízos pressionando o mercado, é fundamental avaliar se a liquidez nova é suficiente para absorver as vendas.
O “lucro líquido realizado”, medido como parcela do market cap, oferece essa métrica. A média de 90 dias atingiu 0,065% na alta de agosto e segue em tendência de baixa. Apesar disso, o nível atual se mantém elevado, sugerindo que ainda existem fluxos de entrada relevantes.
Desde que o preço permaneça acima de US$ 108 000, o cenário de liquidez segue favorável. Uma quebra maior pode secar esses fluxos e barrar novas altas.
Além dos fluxos on-chain, é relevante analisar a demanda externa via ETFs, que foram fundamentais nesta fase de alta.
Desde agosto, os netflows dos ETFs spot dos EUA caíram fortemente, permanecendo próximos de ±500 BTC por dia (média de 14 dias). O volume está bem abaixo dos patamares que sustentaram os rallies anteriores, evidenciando enfraquecimento do interesse de TradFi. Como os ETFs foram cruciais para impulsão da alta, a desaceleração fragiliza a estrutura atual.
Com a liquidez spot enfraquecida e ETFs em retração, o foco do mercado migra para os derivativos, que costumam liderar quando os fluxos spot arrefecem.
O “viés do volume delta”, que mede o desvio do volume delta acumulado frente à mediana dos últimos 90 dias, reagiu durante o repique a partir de US$ 108 000, sinalizando exaustão dos vendedores em plataformas como Binance e Bybit. O movimento indica que traders de futuros absorveram boa parte da pressão de venda recente.
Adiante, o desenvolvimento das posições em derivativos será determinante para navegação neste ambiente de baixa liquidez spot.
Ao analisar os futuros em maior profundidade, o mercado mostra-se equilibrado, sem sinais de superaquecimento.
O spread anualizado dos futuros de 3 meses permanece abaixo de 10%, mesmo com preços elevados, evidenciando demanda estável por alavancagem sem extremos que precedem liquidações. Isso reforça uma estrutura saudável, mais próxima de acumulação do que de especulação.
O volume dos futuros perpétuos permanece baixo, condizente com o período pós-eufórico. A ausência de picos de alavancagem indica uma valorização baseada em fundamentos sólidos, não em excesso especulativo.
Por fim, o mercado de opções revela como os participantes gerenciam risco e estruturam exposição.
O open interest em opções de Bitcoin atingiu máximas históricas, evidenciando a crescente relevância desse instrumento. Com os ETFs permitindo acesso spot, muitas instituições preferem opções de compra cobertas ou posições de risco controlado.
A volatilidade implícita continua em queda, refletindo maior maturidade e liquidez de mercado. A venda de volatilidade, tática comum no TradFi, pressiona os níveis implícitos para baixo, favorecendo movimentos de preço mais estáveis frente a ciclos anteriores.
A composição do open interest é fortemente inclinada para opções de compra sobre opções de venda, sobretudo em fases de formação de topo, refletindo viés de alta, mas com gestão ativa dos riscos. Essas dinâmicas mostram uma estrutura de mercado mais saudável e orientada ao controle de riscos, suavizando movimentos eufóricos ou abruptos de baixa.
O mercado de Bitcoin hoje está marcado por um equilíbrio delicado entre pressão vendedora e fluxos de entrada enfraquecidos. A realização de lucros por detentores experientes de curto prazo, junto ao reconhecimento de prejuízos por compradores recentes no topo, limitou o ímpeto de alta e consolidou a faixa entre US$ 110 000 e US$ 116 000 como zona central de disputa.
A liquidez on-chain segue construtiva, porém em queda, enquanto os fluxos de ETF — antes essenciais para o avanço do ciclo — perderam força. Por isso, os derivativos ganharam destaque, com futuros e opções absorvendo vendas e influenciando a trajetória dos preços. Positivamente, o spread dos futuros e o posicionamento das opções indicam estrutura mais estável que em fases anteriores, sinalizando um avanço mais sustentável.
Para frente, a capacidade de recuperar e se manter acima de US$ 114 000 é crucial para restaurar a confiança e captar novos fluxos. Caso contrário, pode haver nova pressão sobre detentores de curto prazo, com suportes em US$ 108 000 e US$ 93 000. Em síntese, o Bitcoin está em ponto de inflexão, com o suporte dos derivativos mantendo a estrutura, enquanto a demanda mais ampla deve se fortalecer para lançar uma alta consistente.